sábado, 13 de junho de 2009

Charge da Crise de 29 x Crise Atual

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Como podemos observar no primeiro quadro, que expõe a situação da crise de 29, um banqueiro se joga de uma janela de algum prédio dos EUA, provavelmente em Wall Street. No segundo quadro, onde a atual crise é representada, vemos pessoas sendo jogadas do mesmo prédio, só que agora é o banqueiro quem as joga.

terça-feira, 9 de junho de 2009

COBERTURA DO G 20

Notícias de um encontro histórico

Por Luciano Martins Costa em 3/4/2009

Comentário para o programa radiofônico do OI, 3/4/2009

Há um descompasso entre o noticiário dos sites da internet e das emissoras especializadas em economia e os jornais brasileiros que noticiam o resultado do encontro do G-20, realizado em Londres na quinta-feira (2/4).

As decisões tomadas pelas lideranças dos vinte países economicamente mais relevantes do mundo representam o maior e mais importante pacote de mudanças já produzido em acordos internacionais desde o pós-guerra. Trata-se de um evento histórico, que rompe o consenso até aqui predominante nas relações globais de comércio e que pode abrir caminho para mudanças realmente significativas no estado do mundo.

Excesso de otimismo? Não. O fim do chamado "consenso de Washington", expressão que define a plena liberdade de circulação dos capitais financeiros, foi anunciado formalmente pelo primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown. Por outro lado, o sentido de "sustentabilidade" pontificou o documento conclusivo da reunião de cúpula e foi destacado em diversas manifestações.

Consenso prévio

Esses são os pontos centrais, as balizas que marcam as decisões tomadas pelos dirigentes dos vinte países economicamente mais importantes do mundo. Mas a imprensa brasileira se prendeu aos fatos, deixando as análises para segundo plano. Talvez nos próximos dias essas reflexões sejam levadas ao público.

O clima do encontro, amistoso e confiante, não condizia com a situação que o motivou: a mais grave crise financeira conhecida pelo mundo moderno.

O que fazia os líderes mundiais tão otimistas? Os jornais não dizem, mas qualquer jornalista que já esteve em fóruns multilaterais sabe que, antes de se reunirem, os dirigentes já haviam recebido os estudos e recomendações de seus assessores. Sempre há pouco espaço para improvisos em seus discursos e debates públicos.

Quando chegaram a Londres para a reunião, os dirigentes do G-20 já tinham em mãos os documentos do consenso. Nenhum deles foi surpreendido, todos sabiam que as divergências haviam sido superadas e que eles poderiam anunciar medidas impactantes de combate à crise.

Ao passar por cima desse fato, a imprensa reforça o espetáculo mas deixa o leitor sem saber como as coisas realmente funcionam.

O fim da ilusão

Então vamos aos fatos objetivos, resumidos nos sete pontos principais.

O primeiro deles: um grupo formado pelos países do G 20, mais Espanha e Comissão Européia, vai coordenar um sistema de detecção de sinais de crise, para garantir a estabilidade do sistema econômico mundial. Essa decisão significa que o sistema de governança deverá ser mais transparente e confiável, uma vez que devem sair de cena as agências privadas de avaliação de risco, que erraram completamente suas previsões durante o período que antecedeu a eclosão da crise.

Outra decisão: a legislação internacional sobre bancos e mercados financeiros será mais severa, com maior controle sobre fundos de "hedge" e sobre os riscos tomados pelo sistema financeiro. Essa medida era um dos pontos de discórdia entre os Estados Unidos e outros participantes do encontro, como a Europa, a China e o Brasil.

Juntamente com a moralização dos bônus para executivos financeiros, que agora serão condicionados a resultados concretos e auditados, essa é uma resolução que pode romper o círculo de perversidades que levaram à expansão dos sistemas de pirâmides e fraudes e que são parte da origem da crise.

Para o lixo

Os jornais dão destaque absoluto à destinação de 1 trilhão de dólares para o combate aos efeitos mais graves da crise, porque o número é impressionante, embora poucos jornalistas saibam dizer, de pronto, o que significa esse valor.

Também tem bastante repercussão o plano de reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, mas as medidas mais importantes e que devem produzir mudanças no modelo da globalização são o fim dos chamados "paraísos fiscais" e a prioridade de investimentos para projetos sustentáveis capazes de gerar emprego.

O fim dos "paraísos fiscais" deve aumentar o controle sobre circulação de dinheiro originário de corrupção, fraudes e do crime organizado. A busca de uma economia sustentável é a esperança de um mundo menos vulnerável. Juntas, essas medidas apontam para o fim do modelo econômico que a imprensa transformou em dogma nos últimos anos.

O fundamentalismo de mercado vai para o lixo da História.

Neoliberalismo e Consenso de Washington

A globalização comercial e tecnológica permitiu o salto dos Tigres Asiáticos e o alívio da pobreza na China. É reconhecida a proficiência brasileira em três coisas: futebol, Carnaval e busca de bodes expiatórios. Globalização e neoliberalismo foram os bodes na moda da década de 90. Um, era inocente. O outro, era inexistente. Roberto Campos





Nos dias de hoje, muitos ainda se apressam em "rotular" o chamado "Consenso de Washington" como um rol de medidas "neoliberais" criadas no "coração do capitalismo", sob a égide dos "rentistas". Discordo prontamente destes pré-conceitos, requentados pelo sectarismo do passado.


Tenho dúvidas, inclusive, à respeito da existência deste tal de neoliberalismo, conceito criado nos bancos da academia, mas, ao meu ver, recheado de um dogmatismo ideológico, ultrapassado, totalmente em desuso nos países mais desenvolvidos do mundo, mas ainda em voga entre os mais populistas de esquerda, seguidores de terapias heterodoxas (exemplo, Venezuela, Equador, Bolívia, Cuba, Argentina, etc).


Afinal, o que é realmente neoliberalismo ? Qual é o seu exemplo para o mundo ?


Difícil dizer. Num artigo antológico de Roberto Campos, "Em defesa dos bodes", alguns elefantes foram tirados da sala. Vários foram os mitos esclarecidos. É importante destacar, inclusive, o fato das considerações de Roberto Campos não serem perenes, nem oportunistas, ainda atuais bem depois da sua morte em 2001.


Para ele, "a atual globalização não foi uma conspiração americana para manter sua hegemonia. Os Estados Unidos eram hegemônicos até os anos 90, simplesmente porque ganharam a II Guerra Mundial, pelo colapso do socialismo soviético e por liderar a nova revolução tecnológica."


Agora, muitos consideram os EUA, em crise econômica, em decadência, em função de uma política monetária frouxa do Fed no início da década, com a taxa de juros a 1% anuais desde meados de 2001 até o início de 2007, além de uma política externa agressiva, com intervenções bélicas preventivas desastrosas. Ambos os fatores acabaram por causar um excesso de demanda agregada na economia norte-americana, tornando a poupança negativa, depreciando o dólar e pressionado a inflação, em paralelo à ascensão da China e de outros países dos chamados BRICs, como Rússia, Brasil, Índia.


Segundo Roberto Campos "a globalização não é responsável pelo desnível industrial, nem pela pobreza da periferia. Ao contrário, foi a globalização comercial e tecnológica que permitiu o salto tecnológico dos Tigres Asiáticos e o alívio da pobreza na China, que 25 anos atrás exportava menos que o Brasil e hoje exporta muitas vezes mais. Como o comércio internacional cresce quase o dobro do PIB mundial, os países abertos ao comércio e ao investimento vêm crescendo muito mais que os de economia fechada."


Sobre a situação atual do país, mais profecias realizáveis de Campos, "fala-se no Brasil sobre os perigos da "desindustrialização" e da "desnacionalização" em virtude da abertura comercial que fizemos desde 1990. Mas as reais dificuldades de nossa indústria advieram de políticas internas que nada têm a ver com liberalismo ou globalização. O real problema foi a sobrevalorização cambial (em vigor depois de 1994/95 e ainda em vigor no governo Lula), juros escandalosos (resultantes dos déficits fiscais) e tributação asfixiante." Sobre isto, desde 2001, nada mudou. A situação até piorou em alguns alicerces macroeconômicos.


Para ele, não havia alternativas à globalização. "Isolarmo-nos da revolução tecnológica para proteger empregos é suicídio, porque a perda de competitividade geraria estagnação e conseqüentemente mais desemprego. Na opinião do economista hindu J.K. Mehta, da Universidade de Allahabad, inclusive, "subdesenvolvimento é principalmente falta de caráter, e não escassez de recursos ou de capital." Nada mais acertado.


Sobre a polêmica em torno do Consenso de Washington, ideário considerado marco para muitos, por ter permitido avanços consideráveis nos países emergentes, muitos destes agentes anti-globalizações consideravam este como a "bíblia dos neoliberais". Nada mais equivocado, o que é que isto signifique.


O "consenso" nada mais foi do que o amadurecimento de um ideário de medidas econômicas, que vinham sendo estudadas e aplicadas com sucesso em vários países em desenvolvimento ao final da década de 80 e início dos 90.


Num livro recente, "Depois do Consenso de Washington: crescimento e reforma na América Latina", sob a coordenação de John Williamson e prefácio de Armínio Fraga, isto me pareceu bem claro. Este livro teve o mérito e a preocupação de "destrinchar" o "consenso" para acabar com esta celeuma, esta "poeira de maus entendidos".


Segundo o livro, "tudo foi pensado como um conjunto de regras muito simples - e não de prescrições salvadoras - que pudessem ajudar os economistas, decisores políticos e policy makers na América Latina a empreenderem um conjunto de reformas que são absolutamente necessárias para o bom desempenho das sociedades nacionais da região, não para satisfação dos especuladores de Nova York ou dos tecnocratas do FMI." Mais ainda, "os estudos aqui incluídos fazem o diagnóstico da primeira geração de reformas (liberalização e estabilização macroeconômica), apresentam a segunda geração (institucional) de reformas, que são indispensáveis para criar a infra-estrutura de uma economia de mercado com progresso social, assim como discutem as iniciativas necessárias para que as frágeis economias da região encerrem a série de crises registradas nas últimas décadas".


Este "consenso" foi criado a partir de uma reunião com vários próceres do FMI, Banco Mundial, universidades do mundo inteiro, sob a liderança de John Williamson, reunidos numa instituição da cidade de Washington - Institute for International Economics.


Depois de intensos debates, e baseado em pesquisas empíricas passadas, chegaram a conclusão de que as medidas eram as mais acertadas, de bom senso, necessárias a boa governança dos países em desenvolvimento. Ou seja, ao fim chegaram a conclusão sobre várias medidas (ou princípios), considerados essenciais para a boa governança dos países em desenvolvimento, possibilitando um bom crescimento, consistente e sustentável no longo prazo. Dentre as medidas, podemos destacar: abertura do mercado financeiro/conta de capital/comércio exterior, privatização de empresas públicas ineficientes, fim dos monopólios estatais, maior disciplina fiscal, banco central independente, regime de câmbio flutuante, etc. etc.


Não eram medidas pueris ou "neoliberais" como cismam em rotulá-las. Foram medidas urdidas do amadurecimento de anos de estudo e do acompanhamento de vários países que deram certo.


Alguém, com o mínimo de lucidez, pode ser contra estas medidas ? Alguém que acompanha a economia à fundo, com seriedade e pragmatismo, pode ser contra isto ?


Não acredito. Apenas os que possuem interesses outros, ou então se encontram impregnados pelo dogmatismo ou por ideologias estranhas do passado, podem ser contra o "Consenso de Washington". Para estes, felizmente, a história já passou.


Julio Hegedus Netto - Economista-chefe da Lopes Filho & Associados, Consultores de Investimentos julio@lopesfilho.com.br