terça-feira, 26 de maio de 2009

EFEITO RIQUEZA

O desenvolvimento econômico gera incontáveis benefícios à vida das pessoas e de um país. A maior parte destes benefícios é de fácil percepção e acaba atingindo de forma quase que universal, ainda que em escalas diferentes, a população como um todo. Existem, entretanto, alguns benefícios mais sutis e que não se manifestam de imediato, demandando uma certa maturidade do processo de desenvolvimento para ser sensibilizado pelos indivíduos. Um dos mais interessantes e que começa a ganhar relevância no Brasil é o " Efeito Riqueza" ; descrito pelos economistas como um aumento na percepção de riqueza pelas pessoas em decorrência da valorização dos ativos por elas possuídos. Esse sentimento costuma levar a um aumento no consumo, que por sua vez acaba influenciando positivamente toda a equação de demanda agregada e por conseqüência o Produto Interno do país. A valorização do patrimônio dos investidores em ações em decorrência das altas verificadas nos últimos anos, tornando-os mais ricos em relação a sua situação original é um exemplo de fato gerador de " Efeito Riqueza" no Brasil. A ponderação de que o “Efeito Riqueza" costuma a ser melhor percebido em processos mais maduros de desenvolvimento é especialmente importante para o caso brasileiro, pois em economias com inflação mais elevada a percepção do ganho real implícito a valorização total dos ativos é menos clara. Em outras palavra, mesmo percebendo seu patrimônio aumentar, o investidor tem dificuldade em especificar se aquele crescimento se deve a uma valorização de fato ou a uma mera recomposição da inflação. Sem saber se está efetivamente enriquecendo, as pessoas não aumentam seu nível de consumo. O processo inflacionário inibe a percepção do " Efeito Riqueza" não apenas pela dificuldade em se diferenciar o ganho nominal e o real, mas porque tem associado a si prazos mais curtos das aplicações financeiras e taxas de juros mais elevadas. Como o " Efeito Ri-queza" decorre, em última instância, de aumento no valor presente dos investimentos e este por sua vez, depende do prazo de aplicação e da taxa de remuneração, é possível verificar que quanto maior o prazo da aplicação mais significativa será a variação no valor presente em decorrência de uma mudança na taxa de juros que remunera a aplicação. O quadro 1 abaixo compara o valor presente de uma aplicação pré-fixada sem pagamentos intermediários (caso por exemplo das LTN´s e CDB´s), cuja taxa de remuneração foi reduzida de 6% para 4% ao ano, supondo prazos de 1 e 8 anos. A sensação de aumento na riqueza gerada na aplicação de oito anos é muito superior àquela da aplicação de apenas um ano. Resultado semelhante é verificado no quadro 2 quando utilizamos um prazo idêntico e uma redução do mesmo número de pontos base, 300, mas a partir de taxas de juros de magnitudes diferentes. Aqui, a redução de 3% a partir de uma taxa de juros compatível com período de inflação elevada (de 20% para 17% ao ano) gera uma elevação no valor presente menor do que o mesmo movimento quando incidente em uma taxa de juros compatível com um país com inflação sob controle (de 6% para 3% ao ano). Apesar da diferença de prazo ter um impacto maior do que o da magnitude da taxa na elevação do valor presente dos ativos, o importante de se perceber é que ambas as variáveis quando condizentes com uma situação de equilíbrio macroeconômico - a saber: taxas de menor magnitude e prazos mais longos - levam a uma resposta mais intensa da riqueza das pessoas quando acontecem reduções na taxa de juros da economia. E por que o investidor pessoa física, público alvo desta coluna, deve estar atento a estes conceitos da teoria econômica? Pelos simples fato de que o Brasil está apresentando cada vez mais características de países com economia equilibrada, isto é, onde mudanças na taxa de juros produzem variações importantes no " Efeito Riqueza" das pessoas. Diante disso, o investidor deve direcionar o seu foco para aquelas alternativas em que reduções na taxa de juros gerem elevações maiores no valor presente de seus ativos. Como vimos antes, serão especialmente beneficiadas as aplicações com prazo longo de maturação e aquelas com taxas de juros mais elevadas. Uma alternativa em que essa elevação do valor presente tem sido substancial é o investimento em títulos públicos de longa duração. As NTN-B Principal - título que paga a variação do IPCA mais uma percentual fixo de juros ao ano - com vencimento em 2015, por exemplo, rendeu 31,33% nos últimos 12 meses. A remuneração prevista para a NTN-B Principal está longe de 30% ao ano até o seu vencimento, mas a redução da taxa oferecida de IPCA+8,5% em maio de 2006 para IPCA+6,3% atualmente fez com que o valor presente tivesse a elevação de 31,33% verificada nos últimos 12 meses. O fato deste retorno já ter se verificado, entretanto, não torna estes títulos menos interessantes já que a taxa real de 6,3% ao ano ainda é bastante elevada e deve ser reduzida futuramente, proporcionando novo aumento no valor presente dos títulos. Apesar de não terem vencimento nem remuneração garantida, as ações também devem se beneficiar de forma diferenciada do processo de redução dos juros. Isso porque o cálculo do valor econômico das empresas utilizado na definição dos preços alvos das ações é feito através do desconto de fluxos de caixa de prazos bastante longos. Assim, a redução na taxa de desconto destes fluxos, que acompanha a redução da taxa básica da economia, deve elevar de forma considerável o valor econômico presente das empresas, e com isso, o seu valor de mercado. O retorno proporcionado pelos títulos públicos de longo prazo e pelo mercado de ações aponta, de certa forma, para uma mudança de paradigma no conceito de oportunidades de investimento no Brasil. As elevadas remunerações de curto prazo já não proporcionam os melhores retornos. Como toda oportunidade, está também tende a acabar com a difusão do conhecimento e com uma melhor precificação dos ativos. Lembram da música do Vandré? Quem sabe faz a hora!

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